quarta-feira, 14 de abril de 2010

O dilema da sustentabilidade

Caso o mundo adotasse o padrão de consumo registrado nos países de mais baixa renda, como o Butão, de cerca de US$ 1,3 mil por ano, o planeta Terra poderia, pelos padrões atuais, sustentar 13 bilhões de pessoas. Estaríamos, então, despreocupados em relação à sustentabilidade. Mas este patamar está longe de ser idealizado pelo simples fato de que condena suas populações a uma existência miserável. Seria um retrocesso sem precedentes na história humana.
Por outro lado, se todas as nações atingissem o nível de renda, e consequente consumo, dos Estados Unidos, de quase US$ 36 mil anuais, a mãe Terra só poderia sustentar 1,4 bilhão de seres humanos, ou seja, 4 bilhões a menos do que hoje!
Entre as duas faces do abismo, está a média de renda anual dos países, de US$ 9 mil por pessoa, padrão que, segundo cálculos de renomadas instituições internacionais, permite a vida sustentável de 4,5 bilhões de pessoas.
Eis o ponto central do dilema: já temos, então, 1 bilhão de pessoas a mais de carona no planeta. O que fazer diante de um quadro tão delicado? Reduzir os índices de natalidade, pura e simplesmente? Proporcionar condições a uma maior eficiência dos setores produtivos, para fazerem mais com menos recursos naturais? Reduzir ou mudar o atual padrão de consumo? O ideal seriam as três alternativas combinadas.
Enquanto não chegamos a este ideal, ou sequer nos aproximamos dele, os líderes políticos precisam dar o exemplo, criando leis e mecanismos para que haja a vital convergência entre os interesses individuais e coletivos, e a manutenção das condições de vida na Terra. Pilar deste movimento é a mudança na cultura do consumo, pela via da educação, centrada em ações proativas no sentido de prevenir malefícios irreversíveis.
Mas também é preciso remediar os efeitos da devastação, a exemplo do que fizemos durante a elaboração e aprovação do Código Ambiental de SC, hoje um modelo de desenvolvimento sustentável para o país. Também urge pensarmos em direcionar parte dos impostos que os governos arrecadam a fundos específicos de preservação da natureza e de aperfeiçoamento tecnológico. E, para que haja a adesão dos setores produtivos, sem os quais qualquer iniciativa não vingará, parte dos impostos devidos, como Imposto de Renda e ICMS, deve ser abatido da conta dos que contribuírem. Pra ontem. Sob pena de vermos os “fundos” naturais escorrerem por entre nossos dedos, inviabilizando as condições de vida digna para nossos filhos, netos e bisnetos. Foi-se o tempo que fazer crescer o emprego e a renda, a qualquer custo, era politicamente correto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário